quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O tal do "Gibi"

Às vezes me sinto meio anacrônico chamando as revistas de histórias em quadrinhos de "gibis". Houve um tempo em que eu mesmo detestava essa nomenclatura, acreditando ser ela uma palavra que denegria a nobre arte da narrativa gráfica, e preferia termos pomposos como "graphic novel". Fato é que, tempo vai, tempo vem, e hoje em dia não vejo nada de mais em chamar os gibis de gibis. Nem sei se alguém ainda usa essa palavra - uma expressão do tempo dos meus pais - mas eu particularmente gosto bastante dela por motivos vários.

Por exemplo: vários países têm termos específicos para denominar os quadrinhos: os franceses chamam de "BD", os americanos de "comics", os italianos de "fumetti". Nós, brasileiros, poderíamos dizer "histórias em quadrinhos" ou apenas "quadrinhos", mas "gibi" é mais carinhoso, mais curto, e designa mais a revista em si do que a maneira visual e estética como os quadrinhos são criados. Uma palavra curta e simpática, que engloba um universo de significados e histórias.

Teorices à parte, o que importa mesmo é a origem do termo. Foi em Outubro de 1974 que a Rio Gráfica Editora lançou no mercado brasileiro o Gibi Semanal, compilação de tiras de quadrinhos impressas em formato tablóide, remanescente de antologias ancestrais como O Tico-Tico... e o próprio Gibi, cuja edição original data de 1939! Essa palavra "gibi" também remonta a 1939, pois só mesmo em um ano tão longínqüo alguém usaria essa gíria em seu significado original. Na época, a palavra denominava um garoto de pele escura, um popular "negrinho". Pois assim era o mascote da revista, uma espécie de "Yellow Kid brasileiro", que estava sempre presente nas capas e páginas da revista - tanto na edição original quanto na re-edição dos anos 1970. Mas devido à extrema popularidade da revista, a palavra acabou tendo seu significado totalmente modificado pelo uso, algo muito raro de acontecer em qualquer língua.

Os quadrinhos publicados no Gibi eram em sua maioria tirinhas estadunidenses do King Features Syndicate. Entre os títulos estavam Recruta Zero, Popeye, Peanuts, Brucutu, Frank e Ernest, Hagar, Mãi-ê!, Nick Holmes, Homem-Elástico, Ferdinando, Steve Canyon, Agente Secreto X-9, Dick Tracy, Flash Gordon, e Príncipe Valente. Além de todos esses "sindicalizados", algumas poucas excessões, como The Spirit e Lucky Luke. Muita coisa boa das mais variadas épocas e de vários estilos diferentes também - daí a origem da expressão "não está no Gibi"!

Como tudo que é bom dura pouco, o Gibi morreu em sua quadragésima edição, não sem antes deixar uma marca indelével no imaginário e na cultura popular do Brasil.

O site "Universo HQ" tem duas matérias muito interessantes sobre o Gibi: um artigo sobre a história da revista, e um valioso depoimento de Sonia Hirsch, a escritora que era a editora-chefe do Gibi em sua versão redux.

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