quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Fantar #04


Ultimamente eu não tenho tido tempo de ler nada e muito menos de baixar ou comprar gibis novos, então decidi dar uma esquentada nesse blog exibindo imagens de alguns gibis da minha coleção, para a posteridade.

Encontrei ontem um gibi que há muito eu não lia: a edição número 4 de Fantar, uma espécie de Godzilla/Hulk/Namor brasileiro do final dos anos 1960.

O site Central dos Quadrinhos Brasileiros fala rapidamente sobre o personagem:
A GEP (Gráfica Editora Penteado) tentou, em 1969, outro personagem submarino. Era Fantar, de Edmundo Rodrigues e Milton Mattos, sobre um anti-herói tipo Namor que queria destruir não só os habitantes da superfície como também os moradores das profundezas marítimas.
Também encontrei uma resenha bastante extensa no site Gibozóide.

Mas segue a minha própria:

Fantar é um típico gibi brasileiro dos anos 1960, feito meio na picaretagem, mas com alguma honestidade. Hoje em dia parece incrível falar isso, mas houve um tempo em que se faziam quadrinhos no Brasil apenas para ganhar dinheiro! Infelizmente, com o passar dos anos, os pais passaram a deixar os filhos cada vez mais por conta da televisão, e nunca os estimulam a ler nada, nem mesmo os gibis do Maurício de Souza. Hoje em dia uma criança ou adolescente médio só lêem seus e-mails e scraps do Orkut, e só conhecem o Batman o Homem-Aranha e os X-Men por causa dos filmes - o que dizer então de Astèrix, Corto Maltese, Lobo Solitário...

Er, mas voltando ao gibi do Fantar... A história principal do gibi se chama "Nas Portas de Shambála". O roteiro é de Milton Mattos, com desenhos de Edmundo Rodrigues. Tem 20 páginas. Depois dela, há uma historinha de 9 páginas, centrada em uma personagem secundária da série.

São 32 páginas de papel jornal impressas em preto, mais a capa, de papel sulfite branco impressa em 4 cores do lado de fora e preto do lado de dentro.

Os personagens centrais do gibi são Fantar, um "monstro atômico" com cara de lagarto, e os cientistas que o tentam derrotar: Dr. Branny, Miss Doty e Mr. Leader, chefe do serviço secreto. A história é uma confusão envonvendo uma cidade mística onde estariam guardada a essência da raça humana ou algo do tipo. O texto inclui pérolas que só mesmo os anos 1960 poderiam nos proporcionar:

"Esses malditos ions! Eles me torturam!"

"Destruiremos o gérmen cósmico da raça humana! Ah! Ah! Ah!"

"...pois a mulher com quem me hei-de comprometer não nasceu ainda!..."

"Fantar está exausto... A luta é cruenta..."

"Este mar está excelente! Por onde andará aquele enjoadão do Mr. Branny?"

Já deu para entender :)

Uma coisa que eu achei interessante é que, apesar de ser um monstro bizarro que não conversa com ninguém, o gibi nos permite ouvir o que Fantar está pensando. Normalmente esse tipo de construção narrativa (monstro vs. todo mundo) caracteriza o monstro como se fosse uma força da natureza, tal qual uma tempestade, como no caso dos monstros gigantes japoneses filhos de Godzilla, personagem no qual nosso amigo Fantar pode ter sido inspirado. Fantar, por outro lado, pensa, e ouvimos seus pensamentos, em formato mais semelhante ao do Hulk, lançado pela Marvel apenas alguns anos antes.

Outra coisa divertida no gibi são as presepadas científicas, como o avião-patrulha cheio de bombas nucleares que passeia pela amazônia peruana, e o "equipamento de irradiações ultra-dimensionais", o que quer que signifique isso.

Vale também lembrar que, assim como em quase todos os gibis e filmes dessa época, a protagonista feminina é uma idiota inútil que só serve para sentir ciúmes do personagem principal. Ela é completamente fútil e só se preocupa com romances, ao invés de ajudar o protagonista Dr. Branny. Esse tipo de esterótipo era muito comum até pouco tempo atrás, e colaborava para manter as meninas afastadas do maravilhoso mundo dos gibis, além de incutir nos garotos alguns conceitos bastante machistas.

Agora, o que ninguém consegue explicar mesmo, é por que diabos um lagarto antropomórfico de 20 metros de altura usa um calção de banho preto.