sexta-feira, 4 de abril de 2008

"Delírios Cotidianos" de Mathias Schultheiss & Charles Bukowski

por Mathias Schultheiss
baseado em textos de
Charles Bukowski
1984 - Ed. L&PM


Um resenhista comum, desses que habitam os blogs normais que compõem a blogosfera – da qual, devo dizer, faço questão de não fazer parte, pois não estou aqui para “monetizar” nem para “gerar buzz” - cairia facilmente na tentação de escrever um texto inteiro sobre o Bukowski para no final dizer uma frase curta sobre os desenhos do Mathias Schultheiss.

Mas eu não vou fazer isso. Já existem duzentos mil sites sobre o Bukowski, e cerca de 50% dos blogs do Brasil são escritos por jovenzinhoas que querem ser como ele, mas mantendo o cabelo
penteado e usando roupas da moda, bebendo cerveja e usando camisinha.

Bom, mas eu não estou aqui para falar de blogueiros. Eu estou aqui para falar de coisas sérias, densas, concretas, profundas. Eu estou aqui para falar de quadrinhos.

Se você for sortudo o suficiente para encontrar uma cópia de “Delírios Cotidianos” em algum sebo, recomendo veementemente que gaste todos os centavos necessários para adquirir essa pequena pérola da narrativa visual. Adaptados pelo quadrinista alemão Mathias Schultheiss, esses contos de Bukowski ganham uma nova dimensão narrativa, não apenas por causa da linguagem dos quadrinhos, que consegue condensar as idéias e dizer o indizível, mas também porque os desenhos de um autor conseguiram traduzir visualmente o que o outro colocou em seus textos.

Os desenhos do Mathias Schultheiss são incríveis. Por que? Difícil explicar. Por que o céu é bonito? Porque é azul? Ele só é azul por causa do oxigênio. Mas, mesmo assim, o céu é bonito.

O que o Schultheiss faz com a pena é teoricamente simples: ele traça contornos, e depois coloca várias camadas de detalhes. Hachuras, pontinhos, risquinhos, linhas que definem músculos, veias e pele. Seus riscos não delimitam os personagens em figuras chapadas e recortadas: esculpem pessoas vivas no papel, cheias de rugas, cabelo, pêlos, e todos os detalhes nojentos que fazem de uma pessoa uma pessoa. Ele não desenha ninguém bonito, ou sublime, ou suave: todo mundo parece sujo e vil, usado, amassado, gasto, cansado, pobre, amargurado, meio burro. Os lugares que sua pena descreve são duros, ásperos e humilhantes, sempre claros demais ou escuros demais, quentes demais ou frios demais. Como a vida real.

Como os textos de Charles Bukowski.

5 comentários:

Anônimo disse...

Não sou muito de comentar em blogs não , mas este livro do Schulteis como Bukwoski , foi um dos primeiros q eu , ainda em tenra idade (tinha lá uns 11 anos), tive um "Isso não é pra vc" ,como resposta.Depois q pedi pro meu pai me dar de presente , na antiga siciliano do barrashoping, esse e o outro livro da dupla "New York , 95 cents ao dia e outras histórias". Depois , eu arrumei um jeito de conseguir a grana e comprei os dois , e me acabei várias e várias vezes em cima deles. E bizarrice das bizarrices , acabei passando por um situação quase idêntica a da puta de 135 kg. E sobre o Schultheiz , existe uma série de histórias dele q foi publicada na finada ElVíbora, sobre um branquelo na África . Tb muito foda.

Jason disse...

Esse eu não conhecia, mas vou atrás. Tenho o New York, 95 cents... que também é muito bom, achei na sorte em um sebo. Valeu a dica.

mal subito disse...

Eu li esse e nova york, 95 cents ao dia.
Grandes álbuns!
tb acompanhava o schultheiz na extinta Animal.
E também tenho The Bell´s Theoreme.
O homem é muuito bom.
um dos meus preferidos. Ele tem um certa melancolia que me agrada.
Excelente idéia de resenha.

Unknown disse...

Disponível na Estante Virtual pela bagatela de 99 reais!

Anônimo disse...

comprei o Delírios Cotidianos na bienal do livro deste ano, li num tapa só e adorei!!! os desenhos do Matthias são perfeitos. ^.^
e as histórias do Buk, memoráveis.