quarta-feira, 23 de abril de 2008

Quadrinhos no YouTube!?

É isso mesmo, amiguinhos. Passeando pelo YouTube encontramos vários vídeos relacionados a quadrinhos, com coisas muito interessantes.

Tem um documentário em três partes (uma duas três) sobre o Chris Ware. Além de ser um dos maiores quadrinistas da atualidade, ele toca piano que é uma loucura. Assim como o Robert Crumb, ele é obcecado com música dos anos 1890/1920 e tem uma vitrola muito louca. Eu achei interessante uma parte em que ele fala que o trabalho do cartunista conduz à depressão. Eu sempre achei que era o contrário (que a depressão levava a pessoa a fazer quadrinhos). Preciso pensar mais sobre isso.

Também tem alguns vídeos do Daniel Clowes. Tem uma série de vídeos mostrando ele dando autógrafos na San Diego Comic Con. Um making of do Ghost World. Mas o mais bizarro e deprimente é um comercial da Apple com ele. Fiquei muito decepcionado com o meu ex-ídolo.

Tem uma entrevista curta com o Robert Crumb e vários pedaços daquele filme sobre ele. Em outro vídeo ele explica como é o formato ideal de mulher para ele. Tem uma versão em video de uma história em quadrinhos, mostrando a "evolução" (oi Júlia) da América. Tem até mesmo músicas da banda dele, os Cheap Suit Serenaders. Você pode baixar um disco deles aqui.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

"Fun Home" de Alison Bechdel

Alison Bechdel, 2006
Ed.: Conrad
2007

Fun Home tinha tudo para dar errado: é um livro confessional, sem piadas, grosso, denso, complexo, cheio de citações literárias e que toca temas tabu como homossexualismo e pedofilia. Junte tudo isso a uma autora com cara de intelectual e um desenho todo preto branco e verde e você tem nas mãos... o que? Um fracasso editorial?

Não. Sinto muito. Fun Home é fantástico. E é um sucesso também. Foi eleito o Livro do Ano de 2006 pela revista Time, e ganhou o Eisner Awards em 2007, e conseguiu desmistificar tudo aquilo que eu disse anteriormente. Em um momento em que os quadrinhos independentes americanos correm o risco de se afogar na lama do egocentrismo, com enxurradas de histórias confessionais e auto-biográficas inundando os zines, sites e revistas, Bechdel conseguiu criar uma narrativa pertinente, intrigante, e cheia de personalidade.

O livro conta a trajetória da relação entre a autora e seu pai, um homem complicado e cheio de mistérios, que morreu atropelado por um caminhão aos 44 anos de idade. O livro não segue uma ordem cronológica que culmina com a morte do pai: cada capítulo explora uma dimensão diferente dessa relação, apresentando peças de um quebra-cabeças que a autora vai montando ao longo das páginas.

Não, não é mais um livro sobre pais que estupram as filhas que se tornam lésbicas rancorosas. Eu caí na tentação de pensar isso quando li a orelha do livro, mas em poucas páginas o talento narrativo e a delicadeza de Bechdel dissolveram meu preconceito. Ela aborda os temas de uma maneira ao mesmo tempo direta, sensata, organizada e lógica, sem perder nunca os detalhes complexos da personalidade e da psiquê de todos os personagens.

Apesar de falar sobre os problemas secretos do pai, as dúvidas sobre a causa de sua morte, e a descoberta da sexualidade pela autora, o tema central e mais interessante do livro é a literatura propriamente dita. Depois de explicar e analisar sua complexa relação com o pai, Bechdel mostra como conseguiu, a partir de um certo momento da vida, manter uma relação com o pai, e que isso só se deu através da literatura. Essa parte do livro abre espaço para muitas discussões interessantes sobre a função da arte e da cultura, e da literatura em particular. E o mais importante de tudo: essa discussão acontece em um livro de quadrinhos!

Talvez a autora pudesse ter falado mais sobre isso. Que eu me lembre, em momento algum do texto ela explica sua opção pelos quadrinhos: apenas mostra cenas em que ela desenha na adolescência. Também vemos a palavra “tragicomédia” no subtítulo do livro, mas eu não me lembro de ter achado nada engraçado em toda a narrativa. É claro que a história é um drama, uma espécie de auto-terapia, que é sempre uma maneira muito difícil e corajosa de lidar com certas recordações e sentimentos. Mas a comédia nasce da destruição, da desgraça e da morte, e o humor muitas vezes é a única maneira que o ser humano tem de encarar tudo isso. Mas quem sou eu para dizer o que os outros devem fazer em seus livros?

Resumindo: Fun Home é um livro pessoal sem ser egocêntrico, denso ser ser hermético, complexo sem ser chato, emocionante sem ser piegas. Para ler sozinho em um dia de chuva, ou de madrugada, deitado na cama e pensando um cigarro.



Update: o site da Conrad está dando um descontinho no livro por conta do lançamento, se quiser comprar vá direto no site deles que sai mais em conta! É só clicar aqui.

"Delírios Cotidianos" de Mathias Schultheiss & Charles Bukowski

por Mathias Schultheiss
baseado em textos de
Charles Bukowski
1984 - Ed. L&PM


Um resenhista comum, desses que habitam os blogs normais que compõem a blogosfera – da qual, devo dizer, faço questão de não fazer parte, pois não estou aqui para “monetizar” nem para “gerar buzz” - cairia facilmente na tentação de escrever um texto inteiro sobre o Bukowski para no final dizer uma frase curta sobre os desenhos do Mathias Schultheiss.

Mas eu não vou fazer isso. Já existem duzentos mil sites sobre o Bukowski, e cerca de 50% dos blogs do Brasil são escritos por jovenzinhoas que querem ser como ele, mas mantendo o cabelo
penteado e usando roupas da moda, bebendo cerveja e usando camisinha.

Bom, mas eu não estou aqui para falar de blogueiros. Eu estou aqui para falar de coisas sérias, densas, concretas, profundas. Eu estou aqui para falar de quadrinhos.

Se você for sortudo o suficiente para encontrar uma cópia de “Delírios Cotidianos” em algum sebo, recomendo veementemente que gaste todos os centavos necessários para adquirir essa pequena pérola da narrativa visual. Adaptados pelo quadrinista alemão Mathias Schultheiss, esses contos de Bukowski ganham uma nova dimensão narrativa, não apenas por causa da linguagem dos quadrinhos, que consegue condensar as idéias e dizer o indizível, mas também porque os desenhos de um autor conseguiram traduzir visualmente o que o outro colocou em seus textos.

Os desenhos do Mathias Schultheiss são incríveis. Por que? Difícil explicar. Por que o céu é bonito? Porque é azul? Ele só é azul por causa do oxigênio. Mas, mesmo assim, o céu é bonito.

O que o Schultheiss faz com a pena é teoricamente simples: ele traça contornos, e depois coloca várias camadas de detalhes. Hachuras, pontinhos, risquinhos, linhas que definem músculos, veias e pele. Seus riscos não delimitam os personagens em figuras chapadas e recortadas: esculpem pessoas vivas no papel, cheias de rugas, cabelo, pêlos, e todos os detalhes nojentos que fazem de uma pessoa uma pessoa. Ele não desenha ninguém bonito, ou sublime, ou suave: todo mundo parece sujo e vil, usado, amassado, gasto, cansado, pobre, amargurado, meio burro. Os lugares que sua pena descreve são duros, ásperos e humilhantes, sempre claros demais ou escuros demais, quentes demais ou frios demais. Como a vida real.

Como os textos de Charles Bukowski.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Excelsior!

Amigos leitores, é com inenarrável satisfação que lhes apresento Quadrinhos Coquetes, o mais novo blog de quadrinhos do Brasil. Minh'alma está iridescente de alegria enquanto escrevo essas maltratadas, digo, maltraçadas.

Neste humilde espaço virtual, eu e minha companheira de aventuras Clarah Averbuck traremos aos senhores as resenhas mais inspiradas, viscerais, opinativas e emocionantes sobre quadrinhos novos e velhos, sagrados e profanos. Acompanharemos os últimos lançamentos no mercado editorial brasileiro, além de relembrar velhos clássicos e sucessos do passado.

Com as mais sinceras saudações,

Daniel Poeira
um seu criado.